O número de cursos de Medicina no Brasil explodiu nos últimos 20 anos. Segundo o portal Educa Cetrus, passamos de 143 faculdades para 448 — um salto de mais de 200%. E aí vem a dúvida que não quer calar: como garantir que todo mundo que sai com o jaleco branco realmente sabe o que está fazendo?
É nesse clima que surgiu a polêmica da “OAB da Medicina” — uma proposta de exame nacional obrigatório pra avaliar se o recém-formado realmente está pronto pra atender pacientes. Tipo o exame da OAB pros advogados, mas com estetoscópio no lugar do terno.
⚖️ O debate: “queremos médicos qualificados” x “chega de mais provas!”
O Conselho Federal de Medicina (CFM) está puxando o bonde da ideia.
O médico Alcindo Cerci Neto, coordenador da Comissão de Ensino Médico do CFM, defende a criação da prova:
“Tem muita gente se formando sem conseguir fazer atendimentos básicos com qualidade. Queremos que a população tenha acesso a profissionais realmente qualificados”, explica.
E a galera parece concordar: uma pesquisa do Datafolha, encomendada pelo próprio CFM, mostrou que 96% dos brasileiros apoiam a criação da prova.
💼 Mas tem quem ache exagero
Do outro lado do ringue, está o empresário Mohamad Abou Wadi, da Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (ABMES).
Ele diz que a tal prova é desnecessária, já que o MEC criou o Enamed (Exame Nacional de Avaliação da Formação Médica) pra medir a qualidade dos cursos de Medicina.
“Já temos o Enamed pra isso. Criar outra prova seria redundante e só traria mais custos e insegurança jurídica”, defende Wadi.
Cerci Neto rebate dizendo que os exames têm objetivos diferentes:
“O Enamed avalia cursos. A ‘OAB médica’ avaliaria o profissional formado. Queremos testar habilidades práticas, raciocínio clínico e comunicação com o paciente.”
🧑⚕️ A visão dos estudantes: mais pressão e menos solução
A estudante Thais Ingrid Alves, da UnB, não curtiu a ideia.
Pra ela, o exame só aumenta a ansiedade e não resolve a raiz do problema:
“Isso só penaliza quem está se formando. O problema não é a falta de prova, é o excesso de cursos ruins e a falta de fiscalização do MEC.”
Já Samuel Beça, também aluno da UnB, vê um lado bom e ruim:
“Pode ser um bom parâmetro pra garantir um nível mínimo de conhecimento, mas corre o risco de virar uma barreira financeira e psicológica pra quem não tem recursos.”
💣 Os impactos da “OAB médica”
A discussão vai além do jaleco e do estetoscópio:
- Pode tornar o ensino mais engessado, com faculdades virando “cursinhos de prova”;
- Cria barreiras financeiras, já que muita gente precisaria pagar cursinhos e taxas;
- E pode atrasar a entrada de novos médicos no mercado, num país que já sofre com falta de profissionais no SUS.
Thais ainda manda o recado:
“Essa prova é uma maquiagem pedagógica. Finge resolver o problema, mas só joga a culpa no aluno.”
Já Samuel pondera que, se bem feita, pode forçar as faculdades a melhorar suas grades curriculares.
🧾 E o MEC nisso tudo?
O Enamed, oficializado em abril de 2025, é a nova aposta do MEC.
Ele unifica o Enade e o Enare, e será obrigatório e gratuito pra todos os concluintes de Medicina.
A primeira aplicação acontece em 19 de outubro, e a nota vai servir pra ingresso em residência médica.
Mas o Enamed não é uma “OAB médica” — ele avalia o curso e o aprendizado, não o direito de exercer a profissão.
🤔 E se a “OAB médica” virar lei?
O senador Marcos Pontes (PL-SP) já apresentou um projeto de lei pra transformar a ideia em realidade.
Pela proposta, só quem passar na prova poderá receber o registro no CRM e atuar como médico.
Pontes defende que a medida veio de uma demanda da própria classe médica, preocupada com a proliferação descontrolada de faculdades e a queda na qualidade da formação.
🧠 Moral da história
A “OAB da Medicina” promete dividir opiniões por um bom tempo.
De um lado, quem quer mais garantias de qualidade nos profissionais.
Do outro, quem vê mais burocracia, ansiedade e elitização no caminho.
Enquanto isso, os estudantes seguem entre o sonho do jaleco e o pesadelo das provas — tentando entender se o futuro da medicina no Brasil vai ser mais sobre curar pacientes… ou sobreviver a editais. 🩺💀